Os alunos do 12º ano de Matemática da EBI de Pampilhosa da Serra, um concelho ”entalado entre as serras do Açor, Lousã e Gardunha” foram os que pior média de escola obtiveram nos exames do Ensino Secundário, tendo sido seguidos, de perto, pelos seus colegas da Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa.
Num país onde as médias a algumas das principais disciplinas já não são famosas, o facto é que os resultados da Pampilhosa da Serra impressionam ainda mais. No passado ano lectivo, os 18 estudantes que prestaram provas a Matemática obtiveram uma média de
2,2 valores, numa escala de 0 a 20. Na Marquês de Pombal, aquela média foi de
4,9 valores (apenas 2 alunos foram a exame!).
Aqui há alguns anos, facilmente ouviríamos explicações fundamentadas na falta de condições das escolas, na degradação dos edifícios, na falta de materiais pedagógicos, enfim, no “betão”, no “hardware”.
Hoje, esse discurso está gasto. A jornalista do
Público, que visitou a escola da Pampilhosa da Serra, refere o “[…] impecável aspecto dos seus vários edifícios amarelos, bem equipados, espaçosos, o pavilhão gimnodesportivo, o campo de jogos ou o centro de recursos e todas as infra-estruturas que uma escola ambiciona ter […]”.
Por seu turno, a Vise-Presidente da Marquês de Pombal diz "Acho que deve haver poucas escolas tão bem apetrechadas e com tão boas instalações como as nossa”.
Então, como se vê, já começamos a reconhecer que temos boas instalações e condições escolares. Assim, o discurso desculpabilizador dos responsáveis escolares está a mudar. O problema passa a ser recentrado nos alunos. Na Pampilhosa da Serra, diz o Presidente do CE, “há crianças que acordam todos os dias às seis da manhã para efectuar um percurso de 30, 40 quilómetros, entre curvas e contra-curvas, cobertas de gelo e nevoeiro nos dias mais frios do Inverno, para regressar nove horas e alguns enjoos depois, na camioneta do final do dia. […] A massa de alunos que temos cá dentro é que, se calhar, é um bocadinho diferente da que está na escola ao lado". Em Lisboa é semelhante: “A escola peca por ter alunos de camadas sócio-económicas muito baixas".
Ora vamos lá ter calma!
Não vou afirmar que os resultados escolares são independentes do estatuto sócio-económico dos alunos. Não são! Todavia, não explicam resultados desastrosos como os presentes. As melhores condições de trabalho em casa, o acesso a fontes diversificadas de informação, a multiplicidade dos recursos bibliográficos, o pagamento de “explicações”, etc. podem justificar que as escolas com alunos oriundos de estratos favorecidos obtenham médias mais elevadas que as outras. Podem, portanto, justificar
médias mais elevadas. No entanto,
a ausência daquelas condições nunca poderá justificar a absoluta ignorância expressa através de uma
média de 2,2 valores. Para desastres como este é preciso encontrar outras causas, identificá-las e combatê-las.
Ora, nesta linha, e ainda no mesmo
Público, o Presidente da Câmara da Pampilhosa da Serra avança com uma ideia curiosa. Diz ele: "No ano passado, fui saber quantas faltas [de professores] tinham sido registadas: quatro mil. Se eu sei que o corpo docente é constituído por cerca de 50 elementos, temos uma média de
80 faltas por professor. Mas se eu também sei que houve quem não desse uma única falta, imagine quantas deram alguns...". E continua afirmando que este é um dos factores que mais contribuem para a "falta de qualidade do ensino", ao mesmo tempo que defende
novas regras de colocação e avaliação dos docentes: "O problema só se resolve quando se puderem fixar os professores nas escolas no mínimo por três anos. Os alunos tinham continuidade pedagógica e os docentes podiam ser responsabilizados".
Toma lá e embrulha!