É aquela que aqui vou contar. Vem a propósito do Mocho ter ripostado ao meu post anterior dizendo que a avenida cheira àquela coisa. É uma história longa, mas não há outra maneira de a contar. Interessa especialmente aos daqui, mas, eventualmente, pode aplicar-se a outros protagonistas noutras cidades e vilas deste país. Vamos lá então:
Era uma vez um autarca socialista. Tinha ganho as eleições em Mangualde com escassos 11 votos de vantagem. Não tinha maioria, mas isso não o atrapalhou. Era um jovem brilhante, dotado de invulgar perspicácia e de uma notável capacidade de argumentação, qualidades que utilizava para aumentar o seu natural magnetismo. Governou durante 18 anos, tendo começado numa época muito especial. Uma época em que era fácil mostrar “obra” porque
TUDO estava por fazer. Além disso, teve a felicidade de apanhar a fase da primeira transferência de competências para o poder local, a Lei das Finanças Locais, e, melhor que tudo, o grande “boom” dos “fundos da CEE”. Naquele tempo havia dinheiro para tudo, fosse para a Câmara, fosse para as empresas. Uma época, irrepetível, de franco desenvolvimento. Desta forma, o autarca granjeou uma admiração, uma aura, uma verdadeira mística, à qual poucos se podem gabar de terem permanecido indiferentes. O próprio Azurara se deixou conquistar e, durante algum tempo, deu a cara por aquele projecto.
Um belo dia, o autarca acordou pela manhã e interrogou-se: então, o que é que vou fazer hoje? Ah, já sei! Vou fazer uma avenida direitinha à Senhora do Castelo.
E se bem o pensou, mais depressa o fez. Num instantinho, lá se rasgou a nova avenida. Ficou linda! É claro que tinha alguns problemas: não ia dar a lado nenhum, não tinha saída, não tinha drenagem de águas pluviais e não estava dimensionada para suportar grandes cargas. Mas eram tudo coisas que não se viam. Por isso, o povo gostou e recompensou-o com muitos votos.
Passados alguns anos, um promotor imobiliário pediu autorização para construir, com frente para a avenida, um conjunto de edifícios de apartamentos (os alaranjados que se vêem na foto e que marcam o primeiro quarto da avenida). Que sim, disse o autarca. Só que, na pressa com a construção da dita artéria, além dos outros pormenores já referidos, o autarca deu conta que se havia esquecido das canalizações de água e esgotos (dizia-se que os esgotos não davam votos porque ficavam enterrados) e da electricidade. Mas isso não o fez indeferir o pedido de construção. Pelo contrário, resolveu os problemas todos num ápice. Quanto à água, mandou-se instalar a respectiva canalização; para a energia eléctrica, permitiu-se que fosse abastecida através de um cabo em torçada pendurado em troncos de pinheiro, a partir do PT do Mercado; no que respeita aos esgotos, foi o construtor autorizado a construir uma belíssima fossa séptica, mesmo ao lado dos prédios.
Só que, rapidamente a fossa séptica deixou de ter capacidade para tanto efluente (as máquinas de lavar louça e roupa foram a desgraça das fossas). Por isso, a fossa encheu e tornou-se necessário despejá-la. Mas, ao fim de mais algum tempo, veio a perceber-se que tal não era possível; só se fosse todos os dias, o que custaria um balúrdio.
Ora, acontece que, mesmo em frente aos ditos prédios, havia um belo lameiro onde cresciam umas silvas. E, meus amigos, nem queiram saber com o silvado cresceu e verdejou, alimentado por todos aqueles nutrientes.
Obra do actual executivo municipal, a avenida já tem energia eléctrica (como as fotos documentam), rede de águas pluviais e rede de esgotos. Só falta completar a ligação à ETAR da bacia Norte, o que está para breve.
Contudo, de quando em vez, ainda cheira, lá isso cheira.
Conclusão:
Quando se faz, deve fazer-se bem!